Olivier Perroy
Sumário
- Biografia de Olivier Perroy
- A Prática Shotokai Chega na Europa
- A Carta de Jacques Causon (Original em Francês)
- Tradução da Carta de Jacques Causon para o Português
Biografia de Olivier Perroy
Olivier Perroy nasceu em Genebra, na Suíça, e reside no Brasil há muitas décadas. Ele estudou no Japão diretamente com Mestre Egami, alcançando a graduação de 5º Dan. Foi enviado à Europa para apresentar a nova prática de Mestre Egami, ou seja, a prática do Shotokai, para todo o mundo.
Perroy conhece pessoalmente tanto Schneider Sensei, desde o estágio de Avignon, quanto Filié Sensei, que ele visitou em sua residência no Brasil. Ele mantém uma grande amizade com Aoki Sensei, o criador do Shintaido, até os dias atuais.
A Prática Shotokai Chega na Europa
A França foi o berço ocidental do Shotokai. Mestre Schneider perseverou desde o princípio com os ensinos recebidos de Mestre Egami. O Shotokai Egami-Ryū é representação genuína de seus ensinos.
O “estilo” de Karatê-dō “Shotokai” teve o seu nascimento nos anos 1960, alguns anos após a morte de Funakoshi Gichin O´Sensei.
A alusão ao “estilo Shotokai” é em virtude de que antes de falecer, Mestre Funakoshi refundou a Associação Shotokai em 1956 numa reação à tendência esportiva da NKK. Esta associação era contudo existente desde 1936.
Shigeru Egami Sensei foi o Diretor Técnico da Associação Shotokai cujo Presidente era Hironishi Sensei.
Na associação Shotokai no Japão sempre houveram as duas tendências técnicas, a ortodoxa do Shōtō-kan de Mestre Funakoshi Gichin e a criada pelo seu aluno Egami Sensei que reconsiderou completamente a prática para cumprir seu juramento a Mestre Funakoshi de completar a transformação do Karatê-Jutsu para o Karatê-Dō. A referência a ser O estilo decorre de que outras organizações começaram a se referir às suas próprias práticas como sendo estilo.
Ambas maneiras técnicas eram conhecidas de O´Sensei e em muito considerava a prática Shotokai evoluída. O Shōtō-kan ortodoxo era para Mestre Funakoshi o ponto de partida, a plataforma pela qual o Karate-jutsu evoluía para o Karatê-dō. Seu estágio final veio a ser conhecido como a prática ou estilo Shotokai.
Este estilo foi introduzido na França em 1965 pelas instruções manuscritas de Egami Sensei numa carta que contém as novas formas de prática criadas por ele.
Esta carta foi-nos entregue pelo karateka, Olivier Perroy, que tinha 4.º dan emitido por Mestre Egami. Ele retornava do Japão e trouxe-nos as novas técnicas apresentadas no estágio de Avignon com a presença de Bassis Sensei.
Para melhor se compreender estes momentos iniciais, estamos disponibilizando o conteúdo da carta que relata as circunstâncias da introdução do estilo de Mestre Egami à este estágio de Avignon escrita por Jacques Causon Sensei (aluno de Bassis) e que foi o iniciador dos primeiros estágios Shotokai de Avignon a partir de 1965.
Estes são os instantes iniciais da introdução Shotokai fora do Japão.
Mestre Schneider é um dos últimos Mestres Shotokai existentes no mundo, tendo participado da gênese Shotokai e após isto desempenhou um papel fundamental na expansão desta prática e no fiel ensino de Mestre Egami pelo Ocidente.
A Carta de Jacques Causon (Original em Francês)
ORIGINE DE L’INTRODUCTION DU KARATE-DŌ EGAMI-RYŪ® EN FRANCE ET EN EUROPE.
Lettre écrite par Jacques Causon, présent au stage d’Avignon em 1965 lors de la venue d’Olivier Perroy. Jacques Causon est décédé em 1999 lors d’un accident de voiture et la disquette contenant cette lettre est à ce jour em possession de l’AKSER.
Au printemps 1965, nous étions à Valence pour assister à un stage de 3 jours dirigé par Marc BASSIS. J’essayais alors de délocaliser le plus possible les stages primitivement organisés em Avignon pour en faire profiter les dojos que certains de mes élèves avaient pu ouvrir. Au cours de ce stage, nous reçûmes um appel téléphonique d’un brésilien d’origine française, Olivier Perroy. Celui-ci revenait d’un séjour au Japon, avec son épouse, pratiquante elle aussi. Il appelait desde Roma e demandait que nous attendions son arrivée à Valence, car il avait des choses extrêmement importantes à nous transmettre. Se relayant jour et nuit au volant d’un Kombi Volskwagen, le couple arriva à temps à Valence. Là, Olivier Perroy nous dit qu’il était chargé par EGAMI Senseï, élève direct de FUNAKOSHI O’Senseï, et professeur d’HARADA Senseï, de nous montrer la nouvelle façon de pratiquer que celui-ci avait développée à partir de l’enseignement d’O Senseï. Em quelques heures, Olivier PERROY nous montra em effet um changement radical, d’un karaté puissant et rapide certes, mas saccadé, crispé, et pour tout dire « militaire », vers une forme plus fluide, encore plus basse sur ses positions, aux attaques pénétrantes plutôt que percutantes, balles de fusil plutôt que masse d’armes, se prolongeant quasi à l’infini à travers l’adversaire, le tout dans des déplacements souples, véloces et sans discontinuité.
A la fin de cet entraînement, qu’Olivier PERROY savait devoir être unique, et au cours duquel il était condamné à tout nous transmettre d’un seul coup, nous étions tous exténués, mas enthousiastes et conscients qu’un chemin plein de progrès s ‘ouvrait devant nous. Merci encore à lui ! Cependant, lorsqu’avant le salut final , il nous dit d’une façon solennelle qui cadrait si peu avec la gentillesse et la sollicitude dont il avait fait preuve jusque là, qu’il nous était dévolu la mission, à partir de ce seul entraînement, de nous mettre em situation de poder mostrar a HARADA Senseï la nouvelle route deux ou trois mois plus tard, à Grange Farm, nos sentiments devinham beaucoup plus contrastados… Les mois qui suivirent furent la période à la fois la plus folle et la plus enrichissante qu’il ait été donné à notre groupe de vivre. Chacun dans son dojo, Bassis à Paris, nous à Avignon, Schneider à Nancy, nous retrouvant le plus souvent possible, travaillant comme des damnés, soutenus dans notre effort par les merveilles que nous découvrions à chaque pas, nous nous préparâmes. Un jour donc, à Grange Farm, vers la fin du stage, après l’entraînement de l’après-midi, Marc Bassis dit à Harada Sensei que nous avions quelque chose à lui montrer, et que nous souhaitions um entraînement spécial, em petit comité si possible.
Dans la soirée, une poignée d’entre nous, dans une pièce retirée, suivant Marc Bassis, pratiqua devant Harada Senseï, seul, immobile et muet. Cela dura, je ne sais plus, une heure, deux peut-être. Il n’y avait plus de temps, plus de fatigue, plus d’appréhension… Notre petit groupe, em osmose totale, délivra, sans seconde chance, ce que nous avions pu faire nôtre du message transmis par Olivier Perroy. Le lendemain, à l’entraînement du matin, Harada Senseï avait changé son Karaté.
Jacques CAUSON Mai 1999
Tradução da Carta de Jacques Causon para o Português
ORIGEM DA INTRODUÇÃO DO KARATÊ-DŌ EGAMI-RYŪ® NA FRANÇA E NA EUROPA.
Carta escrita por Jacques Causon, presente no estágio de Avignon em 1965 durante a vinda de Olivier Perroy. Jacques Causon faleceu em 1999 em um acidente de carro e o disquete contendo esta carta está até hoje em posse da AKSER.
Na primavera de 1965, estávamos em Valence para participar de um estágio de 3 dias dirigido por Marc Bassis. Eu tentava então descentralizar o máximo possível os estágios originalmente organizados em Avignon para que os dojos que alguns de meus alunos haviam conseguido abrir pudessem se beneficiar. Durante este estágio, recebemos um telefonema de um brasileiro de origem francesa, Olivier Perroy. Ele estava voltando de uma estadia no Japão, com sua esposa, também praticante. Ele ligava de Roma e pedia que esperássemos sua chegada em Valence, pois ele tinha coisas extremamente importantes para nos transmitir. Revezando-se dia e noite ao volante de uma Kombi Volkswagen, o casal chegou a tempo em Valence. Lá, Olivier Perroy nos disse que havia sido encarregado por Egami Sensei, aluno direto de Funakoshi O’Sensei, e professor de Harada Sensei, de nos mostrar a nova forma de praticar que este havia desenvolvido a partir do ensinamento de O’Sensei. Em algumas horas, Olivier Perroy nos mostrou de fato uma mudança radical, de um Karatê poderoso e rápido, mas sacudido, tenso, e para dizer a verdade “militar”, para uma forma mais fluida, ainda mais baixa em suas posições, com ataques penetrantes em vez de percutantes, balas de fuzil em vez de maça, prolongando-se quase ao infinito através do adversário, tudo isso em deslocamentos suaves, velozes e sem descontinuidade.
Ao final deste treinamento, que Olivier Perroy sabia que deveria ser único, e durante o qual ele foi obrigado a nos transmitir tudo de uma só vez, estávamos todos exaustos, mas entusiasmados e conscientes de que um caminho cheio de progresso se abria diante de nós. Mais uma vez, obrigado a ele! No entanto, quando, antes da saudação final, ele nos disse de uma forma solene que tão pouco condizia com a gentileza e a solicitude que ele havia demonstrado até então, que nos era incumbida a missão, a partir daquele único treinamento, de nos colocar em situação de poder mostrar a Harada Sensei o novo caminho dois ou três meses depois, em Grange Farm, nossos sentimentos tornaram-se muito mais contrastados… Os meses que se seguiram foram o período mais louco e mais enriquecedor que nosso grupo teve a oportunidade de viver. Cada um em seu dōjō, Bassis em Paris, nós em Avignon, Schneider em Nancy, nos encontrando o mais frequentemente possível, trabalhando como condenados, sustentados em nosso esforço pelas maravilhas que descobrimos a cada passo, nos preparamos. Um dia, em Grange Farm, perto do final do estágio, após o treinamento da tarde, Marc Bassis disse a Harada Sensei que tínhamos algo a mostrar a ele, e que desejávamos um treinamento especial, em pequeno comitê, se possível.
Naquela noite, um punhado de nós, em uma sala isolada, seguindo Marc Bassis, praticou diante de Harada Sensei, sozinho, imóvel e mudo. Durou, não sei mais, uma hora, talvez duas. Não havia mais tempo, mais cansaço, mais apreensão… Nosso pequeno grupo, em total osmose, entregou, sem segunda chance, o que pudemos assimilar da mensagem transmitida por Olivier Perroy. No dia seguinte, no treinamento da manhã, Harada Sensei havia mudado seu Karatê.
Jacques Causon Maio de 1999
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